• 24 de November de 2024

Por não aderirem às facções criminosas, após a quebra de acordo de paz, presos da Grande Fortaleza estariam sendo obrigados a ingerir um coquetel de drogas. É o que aponta o defensor público Emerson Castelo Branco, do Núcleo de Assistência aos Presos Provisórios de Defensoria Pública do Estado, que esteve ontem no Complexo de Itaitinga. 

Dois presos da Casa de Privação Provisória de Liberdade Agente Elias Alves da Silva (CPPL IV) foram mortos sábado, 7, e, de acordo com a Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado (Sejus), há “suspeita de overdose”. Com as ocorrências, são três os óbitos este ano dentro de presídios no Estado.

Esposas de detentos estão se revezando nas proximidades do complexo penitenciário, na BR-116, desde sábado, quando aconteceram as mortes, e dizem escutar pedidos de socorro e de transferência durante a madrugada. Elas afirmam que o coquetel feito para os detentos da chamada massa é composto de água, cocaína e desinfetante. Cláudio Justa, presidente do Conselho Penitenciário do Ceará, define como “uma overdose forçada”.

Após transferências de mais de 4 mil detentos para separação das facções, “o clima é de uma paz tensa”. “Cada facção quer ficar somente ela em uma unidade. É uma questão de controle e domínio”, analisa Justa.

“Existe o chamado preso de massa, que é aquele que não faz parte de facção. Em regra, eles eram respeitados, alguns são evangélicos. Com as facções em guerra, o preso de massa está sendo escravizado e obrigado a escolher um lado, uma facção para fazer parte. E eles não escolhem porque significa estar marcado para morrer pelo outro lado”, detalha o defensor Emerson Castelo Branco.

Segundo ele, outros dois detentos também tiveram de tomar o coquetel, mas foram socorridos a tempo. Conforme as esposas, os relatos que chegam em grupos do WhatsApp são que outros corpos estariam sendo ocultados dentro das celas. A Sejus confirma apenas as três mortes este ano e informa que dois presos foram “retirados e isolados” no sábado, após a identificação de ameaça de morte.

Ameaças

Familiares de detentos que estão na ala dos evangélicos, a ala D da CPPL IV, denunciaram que os 150 presos do pavilhão tiveram morte decretada pelo Comando Vermelho (CV). O POVO apurou que as visitas para o pavilhão E, onde aconteceram as mortes do fim de semana, não foram autorizadas, mas que as da ala dos evangélicos aconteceram normalmente. A situação teria deixado os detentos do CV revoltados e eles, como demonstração do controle, estipularam que as mulheres que visitavam o pavilhão D encerrassem as visitas uma hora antes da estipulada pela Sejus. Com medo, elas concordaram. 

Segundo o diretor da CPPL IV, Francisco Arrais, a segurança interna foi reforçada. Ele ressalta que são dez portões internos para atravessar de um pavilhão para outro. Arrais confirmou que a delegada Socorro Portela, da Divisão de Homicídios, esteve na penitenciária e conversou com o chefe da segurança. Para o diretor, os internos querem voltar para a unidade anterior (CPPL III) e, por isso, estão se dizendo ameaçados. No entanto, ele diz que os detentos não correm esse risco.

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