Cícero Paiva, proprietário do estabelecimento, conta que o cantor costumava visitá-lo com alguns amigos e chegava a permanecer no local até altas horas.
João Paulo Vasconcelos, sobralense e fã de Belchior, foi ao velório do artista e conta que participou do último show de Belchior em Sobral. Apesar de não lembrar o ano, conta que o show aconteceu na Avenida Dr. Guarani, reunindo centenas de alunos da universidade estadual do Vale do Acaraú. Paulo lamenta a falta de reconhecimento do artista que, segundo ele, pode ter motivado a sua saída de Sobral. “Tinham que ter dado valor enquanto ele era vivo”, desabafou.
Proprietário do restaurante em Sobral, Cícero Paiva, segura um autorretrato que Belchior pintou e deu para ele – Foto Wellington Macedo |
Maria Astrogilda Belchior de Aguiar, prima do cantor, também esteve no velório. “Apesar da pouca convivência que tive com Belchior, lembro dele como um garoto muito inteligente, estudioso e criativo. Ainda garoto, ele fazia máscaras com papel de jornal para vender para os amigos. A riqueza cultural em suas músicas as fez tocar de geração em geração. Suas músicas são inesquecíveis. Eu sou muito difícil de chorar, mas quando eu vi a família e a multidão presente, não foi possível conter as lágrimas.”
Astrogilda conta que sempre que Belchior ia a Sobral ligava para ela e, na sua última ida, Belchior pediu todas as fotografias que sua prima guardava.
Ela conta ainda que Belchior foi seminarista franciscano, em meados de 1966, mas abandonou o seminário para tentar cursar medicina. Nesse período, ele conheceu Elis Regina e acabou trocando o curso de medicina pela música. Em 1999, Belchior recebeu o título de Doutor Honores causa, da Universidade Estadual Vale do Acaraú. Na época, o título concedido foi entregue pelo Reitor Teodoro Soares. Já falecido.
Belchior nasceu na rua José Fialho, número 50, no centro de Sobral, mas sua casa não existe mais. No endereço foi construído um prédio residencial.
Cícero Paiva, proprietário de um restaurante em Sobral, conta que Belchior costumava visitar seu estabelecimento com alguns amigos sempre que ia a Sobral e conta detalhes das últimas seis visitas, sempre reservadas por telefone pelo próprio cantor. Ele gostava de tomar vinho português e comer filé parmegiana, seu prato preferido, mas também, segundo Cícero, Belchior gostava de massas. O restaurante conhecido como Cíceros Bar fica no centro de Sobral, em uma área tombada pelo IPHAN e muito bem frequentado pela boemia sobralense. Em todas as suas idas, Belchior sempre fazia a reserva antecipada de sua mesa por telefone e costumava dar palhinhas de suas músicas.
Belchior e sua turma de amigos costumavam virar a noite. Após a saída dos clientes, o restaurante era fechado, mas o cantor e sua turma permaneciam com exclusividade no local. Em uma das ocasiões, um grupo de estudantes universitários, sabendo que Belchior estaria no bar, decidiu sair mais cedo e desembarcaram do ônibus para ver o cantor. Eles pediram ainda que Belchior cantasse para eles um de seus sucessos e ele cantou três capelas de música, sem nenhum acompanhamento instrumental, recebendo, ao final, aplausos de pé por todos. “Ele era uma pessoa muito maravilhosa, muito fácil de lidar, muito simpático”, relata o proprietário do bar, Cicero Paiva.
Ainda segundo ele, Belchior conversava sobre sua infância, sobre suas aventuras dos anos 50, seus sonhos, falava dos shows realizados pelo sudeste e sobre Sobral de sua época. Ele era muito culto. “Ele conversava bem e falava sobre suas brincadeiras com bola de gude. Quem cavava os buracos das ‘bilas’ era ele, suas unhas eram grandes e duras, e isso acabou originando um apelido. Seus amigos mais simples o chamavam de ‘peba’ por conta disso. ‘Peba’ é um tatu que temos no nordeste”, conta Cícero.
Canções e Ilustrações. Belchior costumava presentear seus amigos mais próximos com canções e ilustrações que ele mesmo produzia. Numa de suas idas ao Cíceros Bar, em Sobral, ele presenteou o proprietário do estabelecimento, que tinha como amigo, com dois DVDs, duas coleções de suas ilustrações e uma caricatura. Uma das obras de ilustrações traz recomendações de Carlos Drumond de Andrade.
O Estadão