AFP/ Nelson Almeida
O primeiro debate televisivo das eleições presidenciais de outubro mostrou nesta quinta-feira um país dividido antes de suas eleições mais incertas e transcorreu praticamente sem referências à ausência do favorito nas pesquisas: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba.
O evento, realizado na TV Bandeirantes, em São Paulo, com a participação de oito dos treze aspirantes ao Palácio do Planalto que vão disputar a preferência do eleitorado em 7 e outubro, se estendeu até a uma da madrugada desta sexta-feira.
Participaram do debate o capitão do Exército na reserva Jair Bolsonaro (PSL) – segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto em que Lula aparece como favorito e primeiro em sua ausência – Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Álvaro Dias (Podemos) e Cabo Daciolo (Patriota).
Corrupção, violência e as dificuldades econômicas que assolam o Brasil dominaram o debate, que foi menos polêmico do que o esperado, apesar de alguns atritos.
Um dos principais focos da noite era o desempenho do deputado de extrema direita Jair Bolsonaro, incluindo em relação a seus principais adversários para um eventual segundo turno, em 28 de outubro: a ambientalista Marina Silva e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin.
O ex-capitão do Exército se mostrou mais moderado que em suas aparições nas redes sociais, mas retomou suas propostas de legalizar o porte de armas, da “castração química voluntária” para estupradores e de criação de mais “escolas militares”.
A violência no Brasil, que bateu recordes em 2017 com 64 mil homicídios, é culpa da
“equivocada política de direitos humanos”, disse Bolsonaro, que se apresentou como alternativa à velha política corrupta.
“Você é farinha do mesmo saco (…). Como se sente em ter mais casas do que projetos (aprovados no Congresso)?!” – alfinetou o candidato de esquerda Guilherme Boulos, o único a citar a ausência de Lula no debate.
Geraldo Alckmin se apresentou como o homem sério e experiente que o país precisa “para que a economia cresça e cresça com força” por meio das reformas reclamadas pelo mercado.
O candidato do PSDB se esforçou para tomar distância do governo de Michel Temer, que promoveu várias destas reformas desde que assumiu o poder, em 2016, após o ‘impeachment’ de Dilma Rousseff.
“Os que criaram o problema não vão resolvê-lo”, disparou a evangélica Marina Silva, que se manteve sóbria e contundente na defesa dos menos favorecidos e advogou pela volta da “credibilidade” do Brasil.
– Discreto “debate” paralelo do PT-
Com a participação discreta de Ciro Gomes e da ‘revelação’ extravagante do deputado e pastor evangélico Cabo Daciolo, a ausência de Lula no debate da TV Bandeirantes passou quase despercebida.Lula insistia em participar deste primeiro encontro por videoconferência de sua cela em Curitiba, onde cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas a Justiça lhe negou nesta quinta este pedido.
Esta decisão “viola o direito do povo brasileiro e também dos outros candidatos de discutir as propostas da minha candidatura e até de me criticarem olhando na minha frente, e eu tendo o direito de responder. O nome disso é censura”, disse Lula em carta enviada à emissora e publicada nas redes sociais.
Na mesma hora da transmissão na Band, o Partido dos Trabalhadores organizou um debate paralelo com Fernando Haddad, companheiro de chapa do ex-presidente (2003-2010), transmitido pelas redes sociais.
Com assistência de pouco mais de 7.000 pessoas, o debate reuniu Haddad, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e Manuela D’Ávila (PCdoB), que será vice de Haddad se ele substituir Lula – cuja candidatura muito provavelmente será impugnada segundo a Lei da Ficha Limpa.
O PT vai inscrever formalmente a candidatura de Lula em 15 de agosto, último dia do prazo legal, e planeja reunir milhares de simpatizantes em Brasília neste dia para dar seu apoio ao líder histórico do partido.
Nas eleições de outubro também serão eleitos os 27 governadores, 513 deputados e dois terços do Senado, que tem um total de 81 assentos.
Os debates, juntamente com o tempo de propaganda gratuita de rádio e televisão a partir de 31 de agosto, e os recursos eleitorais que são distribuídos de acordo com o tamanho dos partidos e coalizões, são chave para o desempenho dos candidatos.
Via AFP