• 30 de November de 2024

Esse número pode ser ainda maior, pois há pessoas que não denunciaram os casos aos órgãos públicos com receio de sofrer represálias.

Um drama vivenciado por quem mora em regiões de Fortaleza dominada por facções criminosas: o de serexpulso de casa sob ameaças de morte. De acordo com a Defensoria Pública do Estado do Ceará, nos últimos 12 meses, pelo menos 133 famílias passaram por essa situação.

Entretanto, esse número pode ser ainda maior, pois há pessoas que não denunciaram os casos aos órgãos públicos com receio de sofrer represálias. É o caso de uma mulher de 38 anos, que há três meses foi expulsa de casa por criminosos junto com seus cinco filhos.

Até o momento, ela não fez nenhum Boletim de Ocorrência. A mulher tem medo de retaliação por parte das facções.

Crimes desse tipo ganharam evidência neste ano. No último mês de janeiro, moradores da comunidade da Babilônia, no Barroso, tiveram as paredes de suas casas pichadas com mensagens de “ordem de despeso”. Caso não cumprissem, teriam suas casas incendiadas ou morreriam. Assustados, os moradores decidiram obedecer a ordem.

De lá para cá, outros casos foram registrados, mas em locais diferentes. O caso mais recente aconteceu no bairro José Walter, quando um casal foi expulso no início deste mês de agosto. Os dois foram obrigados a deixar o apartamento, no condomínio Cidade Jardim, sob ameaça de morte. O casal morava no imóvel havia 15 dias.

De acordo com um levantamento feito pela Defensoria Pública, esses casos não são isolados. Nos últimos 12 meses, cerca de 133 famílias foram expulsas de casa após serem ameaçadas por facções criminosas. Entretanto, esse número pode ser ainda maior, pois há vítimas que ainda não fizeram nenhum tipo de denúncia.

Já em inquérito civil instaurado pelo Ministério Público Federal (MPF), no último mês de julho, 52 famílias beneficiadas pelo programa Minha Casa Minha Vida foram retiradas a força do residencial José Euclides Ferreira Gomes, no bairro Jangurussu. O órgão junto com o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) emitiu uma ação judicial para garantir às famílias do programa Minha Casa Minha Vida direito à posse dos imóveis.

Diante desse cenário, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou, por meio de nota, que trabalha na expansão do policiamento 24 horas em conjuntos habitacionais que estão sendo alvos de facções criminosas. De acordo com a pasta, em Fortaleza, existem pelo menos 16 bases policiais, que vão se transformar em unidade integradas de policiamento. Até o momento, 21 pessoas foram presas por serem suspeitos de atuar nesse tipo de ação criminosa.

Expulsas de casa

A mulher entrevistada pelo Tribuna do Ceará estava chegando em casa após um dia de trabalho quando criminosos apareceram armados ordenando que saíssem do imóvel. Segundo ela, o tempo dado pelos criminosos foi o suficiente para pegar alguns documentos. Saiu só com a roupa do corpo. Assustada, foi se abrigar na casa da mãe. “Graças a Deus, meus filhos não estavam em casa. Eles (criminosos) falaram que, se a gente não saísse de lá, iríamos morrer”, relembra.

Entretanto, ela não é a única da comunidade do Caroço, na Praia do Futuro, a ser expulsa. Outras seis famílias também tiveram o mesmo destino. Hoje, a diarista desembolsa mensalmente R$ 350 para pagar o aluguel por um imóvel no bairro Vicente Pinzón.

Com uma renda de um salário mínimo, ela é desafiada todo o mês para sustentar seus cinco filhos com o pouco que resta. “A gente está passando dificuldade. Falta alimento, a mistura, sabe?! Aí tem água, luz para pagar. Eu sou a única fonte de renda”, lamenta.

Além do preço do aluguel, ainda precisa desembolsar o dinheiro do transporte para o trabalho devido ao novo endereço. Antes, não era preciso. Ia a pé. “Quando vou trabalhar, ando com medo”, comenta. A sua esperança e de outras famílias que estão na mesma situação é a intervenção do poder público para reintegrar a posse de seus imóveis. “Nós só queremos que as autoridades públicas fizessem alguma coisa”, ressalta.

O total de família expulsas foi atualizado pela Defensoria Pública de 131 famílias para 133.

(Tribuna do Ceará)

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