• 23 de November de 2024

Uma engenheira agrônoma de 24 anos precisou recorrer a uma amiga por meio do WhatsApp para pedir socorro. Ela era mantida em cárcere privado desde o dia 11 de novembro, quando viajou da Bahia ao Ceará para encontrar o jogador de futebol Francisco Diego da Silva, de 28 anos. Os dois mantinham um relacionamento amoroso pela Internet e se comunicavam por meio de redes sociais.

Ela relatou à Polícia que, ao chegar à residência do homem, ele a prendeu dentro de um cômodo de casa, no bairro Jardim Iracema, e a agredia com frequência. A utilização das redes sociais era monitorada pelo agressor, que não saia de casa. A vítima conseguiu pedir socorro a uma amiga e relatar o medo de morrer. A Polícia Civil foi acionada e prendeu Francisco Diego, no domingo, 21.

Nas mensagens de WhatsApp obtidas pelo O POVO, a mulher afirma à amiga que precisava de ajuda e queria ir embora de Fortaleza. “Se eu não sair daqui ele vai acabar me matando. Ele me bateu hoje e eu não posso mais ficar aqui. Minha vida está em risco. Eu preciso de ajuda amiga”, pediu socorro.

Na Bahia, a amiga da engenheira perguntava se ela tinha o dinheiro da passagem e ela respondia que sim, mas que não conseguia sair da casa. As conversas aconteceram enquanto o homem dormia. “Fui falar de ir embora. Ele voou em cima de mim. Preciso de ajuda para sair daqui da casa. Eu pensei em ligar para a Polícia e pedir ajuda”, contou.

A amiga pediu o endereço da vítima, que repassou a localização e o número da rua, no bairro Jardim Iracema, em Fortaleza. Durante a conversa, a amiga orientou: “Não arrume nada. Deixe tudo como está. Para ele não desconfiar. Quando a Polícia chegar aí você corre para perto deles.”

A Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), por meio da equipe plantonista, foi até o local e prendeu Francisco Diego, que é jogador de futebol, em flagrante, por crimes de cárcere privado, lesão corporal e injúria real. O homem controlava o celular e todas as conversas dela. O que também a impedia de pedir socorro.

Manuela Costa, delegada adjunta da DDM, informou que a equipe plantonista recebeu o telefonema de uma pessoa que se identificava como amiga da vítima e que ela estava impedida de sair da residência. O serviço de inteligência iniciou as investigações e a equipe foi ao local. A vítima, de fato, estava em cárcere privado. Ainda havia uma terceira pessoa na casa, que chegou a negar a presença da engenheira, mas o suspeito acabou saindo com a mulher do cômodo após as investidas da Polícia Civil. 

“A vítima apresentou uma narrativa de que havia um relacionamento há sete meses, que já esteve em Fortaleza e retornou na expectativa de se adaptar ao local e ia ficar aqui depois de um mês. Ela percebeu esse aspecto agressivo, foi lesionada e impedida de sair da residência”, contou a delegada.

Diego é jogador de futebol com passagens por clubes como Ituano (SP) e Tarumã (AM). Ele negou as acusações. A mulher passou por exames que comprovaram as agressões. O indivíduo foi encaminhado à Delegacia de Capturas. A engenheira retornou para sua cidade, no Interior da Bahia.  

As delegadas da Polícia Civil do Ceará Arlete Silveira, Eliana Maia e Manuela Costa alertaram para o perigo de viajar para encontrar pessoas que se conhece só pela Internet. Em um período de um mês, três casos envolvendo duas adolescentes chamaram atenção pelo fato das vítimas serem de outros estados. Elas viajaram para encontrar pessoas que conheciam pela Internet.

Neste mês de novembro uma adolescente de 16 anos, que estava desaparecida no Paraná, foi encontrada no Ceará pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Ela planejava se encontrar com um homem que havia conhecido pela Internet. Ainda neste mês, uma menina de 13 anos que estava desaparecida do Distrito Federal foi encontrada em Massapê, no Interior do Ceará, com um homem que havia conhecido por meio de redes sociais.

A delegada Arlete Silveira alerta para os riscos que envolvem sair de seu estado para encontrar pessoas desconhecidas. “A gente deixa um alerta para mulheres, meninas e adolescentes. Quando a pessoa sai, ela rompe seus vínculos e se coloca em situação de risco. Essa saída, apesar de voluntária, não é criminal, mas pode ter desdobramentos de exploração sexual, violência sexual, estupros e feminicídios”, explica.

A titular da DDM, delegada Eliana Maia, incentiva que as mulheres vítimas desse tipo de ocorrência não deixem de denunciar. “A delegacia tem vários canais de denúncia, tem o disque 100 e tem o 155 da ouvidoria. Não deixem de denunciar. A falta da primeira denúncia pode vir acarretar um desdobramento mais grave”, relata.

Eliana destacou a proatividade da amiga da vítima da Bahia em denunciar o caso à Polícia Civil. Ela explica que, ao presenciar ou saber de crimes que envolvem violência contra a mulher, é preciso denunciar. Profissionais de saúde têm a obrigação de relatar quando há algo contra a vítima. A mudança na legislação também determina que os síndicos de condomínio denunciem.

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