• 29 de November de 2024

Violentada na infância, uma mulher prendeu o próprio estuprador em uma ação policial, em dezembro de 2016. Ela reencontrou o homem 14 anos após o crime. A história veio à tona em reportagem da BBC publicada nesta quarta-feira, 6.

Tábata (nome fictício) tinha só nove anos quando conheceu o fotógrafo de 39, na época casado, no verão de 2002. O homem, que era amigo de seus pais, a estuprou durante dois anos e meio.

Ela explicou, em entrevista à BBC Brasil, que a decisão de falar sobre a assunto deve encorajar outras mulheres a denunciar agressões. “Denunciar e mexer nisso foi um processo de cura”, diz.

A relação de Tábata, ainda criança, com o agressor, que não teve nome revelado pela BBC, começou quando as famílias passaram a acampar juntas no verão. Mas os fins de semana não eram só de viagens e trilhas. A policial relata que ele se aproveitava da sua fragilidade e do isolamento, em meio às árvores, para agir. Os campings ficavam próximos ao rio Uruguai, na divisa entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Relato

“Logo, ele (o fotógrafo) começou a me molestar. Ele se aproximava e ficava passando a mão em mim. Eu não entendia. Aquilo me incomodava, mas eu não via o caráter criminoso naquilo que ele estava fazendo. Não falei nada para a minha família, até hoje não sei dizer o porquê”, contou à BBC Brasil.

“Certa vez, ele abusou de mim quando ele precisava buscar água (para o acampamento) e me fizeram ir com ele para ajudar a carregar os galões. No caminho, ele se aproveitou para ficar passando a mão em mim, mas eu consegui escapar e correr na frente”, continua. “Meus pais nem perguntaram por que cheguei antes dele. Nem passava pela cabeça dos meus pais que ele pudesse abusar de mim porque confiavam muito nele”.

Segundo a BBC, a frequência dos abusos foi aumentando, e a criança passou a se sentir cada vez mais incomodada. A vontade de Tábata era contar a verdade aos pais, mas o medo era maior. A vítima só entendeu o crime aos 11 anos.

“Meu pai sempre foi muito estressado, pilhado. Eu tinha medo que ele pudesse matar ele (fotógrafo), ir preso. Começam a passar mil coisas na cabeça de uma criança. E também tem o receio de que seus pais não vão acreditar no que você está passando”, desabafa.

“Ele dizia: ‘Só um pouquinho, só um pouquinho’. Ele nunca me agrediu com tapas, mas me segurava à força, mesmo eu sendo uma menina grande para a minha idade”, lembra Tábata.

Reviravolta

Ainda de acordo com a BBC Brasil, no reencontro, Tábata conduziu o agressor, algemado, para uma cela no xadrez. Para ela, a situação representou um “encerramento de um ciclo”. Após ser denunciado, a Promotoria descobriu que ele tinha um histórico de abusos e o denunciou por pedofilia. A primeira audiência só veio um ano depois, em 2012.

Tábata também contou à BBC Brasil que o fotógrafo negou as acusações no tribunal. “Eu só li a sentença. Mas ele disse que eu inventei tudo aquilo porque eu queria me vingar dele. Ele dizia que eu fiz aquilo porque meu pai não teria conseguido sair com a esposa dele”, conta Tábata.

Ele foi condenado a sete anos e seis meses em regime fechado pelo estupro. A confirmação, em segunda instância, veio no ano seguinte, quando a vítima, já aos 24 anos, terminava seu curso na Academia da Polícia Civil de Santa Catarina. Em dezembro do ano passado, cerca de um ano após ser preso, o fotógrafo saiu da prisão. Ele teve a pena reduzida por bom comportamento e hoje está livre.

O Povo

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