• 23 de November de 2024

Uma adolescente de 17 anos foi encaminhada a um abrigo após ser vista em situação de exploração do trabalho por um grupo de pessoas. Ela vendia doces e pipocas no Bairro Jangurussu, em Fortaleza, usando uma placa pendurada no pescoço com o QR Code dos dados bancários para os pagamentos. A suspeita é de que familiares praticavam a exploração.

A jovem relatou ser forçada a trabalhar como ambulante diariamente, da manhã à madrugada, até vender o último produto, sem receber dinheiro. Se voltasse à casa em que morava sem vender tudo, sofria violência física.

A situação foi flagrada pela fotógrafa Jenyfer Sousa no dia 4 de agosto. Ela estava com outros três amigos em um restaurante próximo à Areninha Campo Estrela, quando foram abordados pela jovem. Segundo Jenyfer, a adolescente estava com uma expressão triste e pedia ajuda.

O grupo perguntou se a jovem gostaria de comer ou beber água, mas a adolescente recusou a oferta. “Ela disse não poder sentar à mesa nem aceitar a água, pois a ‘tia’ brigaria com ela”, relatou Jenyfer, afirmando que a jovem estava com vontade de pedir ajuda a um carro da polícia nas proximidades.

Antes de decidirem buscar os policiais, o veículo da corporação saiu do local. A jovem se afastou e continuou as vendas na área; o grupo falou com outros ambulantes das proximidades, que afirmaram já ter visto a garota. Um deles indicou que a menina geralmente era supervisionada por uma mulher com um celular.

“A gente percebeu uma coisa esquisita e começou a ficar realmente preocupado, fingindo que estava jantando”, continuou a fotógrafa, acrescentando que o grupo buscou a adolescente de novo. A menina pediu para o grupo falar baixo, tentando disfarçar a abordagem.

Assim, a jovem saiu com o grupo rumo ao carro de um deles. Enquanto se encaminhavam, a suposta supervisora da adolescente apareceu e começou a seguir o grupo em silêncio usando um celular. A menina, então, começou a chorar e desmaiou, e o grupo se dirigiu a uma delegacia.

Atendimento

Jenyfer Sousa afirmou que o grupo não conseguiu atendimento na unidade policial, dado o horário de chegada ao local. No entanto, policiais do Comando Tático Motorizado (Cotam), da Polícia Militar do Ceará (PMCE) recomendaram que o grupo buscasse uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

O grupo levou a jovem à unidade do Jangurussu, onde chegaram após 22h. Após atendimento, profissionais de saúde do local afirmaram que ela não tinha problemas clínicos, e o grupo passou a conversar com a garota, já acordada.

A jovem informou ser do interior do Rio Grande do Norte e ter vindo a Fortaleza para morar com a mãe. No entanto, a adolescente foi expulsa de casa após acusar o pai de estupro, sendo acolhida por um casal de ‘tios’ cegos e de uma mulher identificada como Lídia Bezerra, apontou Jenyfer.

Além disso, a adolescente disse não poder colocar a própria comida nem usar a máquina de lavar do imóvel, devendo limpar as peças à mão.

“Ela estava descalça, com cabelo cortado à força e com muita queda, como se fosse calva”, relatou Jenyfer. “Parecia fisicamente bem acabada para uma menina de 17 anos”.

Sem documentos, a garota tinha apenas um cordão com um QR code. O grupo acionou a polícia acerca do caso, e os agentes pegaram os dados do código, que levava a uma conta bancária vinculada à mulher identificada como Lídia, para doações.

Chegada de responsáveis

Enquanto a jovem se recuperava, a mulher e os dois tios chegaram à unidade acompanhados da polícia, alegando que a adolescente fora sequestrada.

Assim que a jovem viu Lídia, passou a ter uma crise de pânico, chorou e se recusou a voltar. A mulher começou a gritar questionando a jovem.

As duas equipes de agentes, segundo Jenyfer, consideraram que o caso era questão de assistência social e deixaram o local. Funcionários da UPA intervieram e acolheram a jovem, que dormiu na unidade até a sexta-feira (5) à espera de um profissional do serviço social.

Em 5 de agosto, a garota foi atendida pela assistência social da unidade, que acionou o Conselho Tutelar. Os representantes do órgão ouviram a jovem e a levaram à Casa da Criança e do Adolescente. A fotógrafa e adolescente prestaram depoimento, e esta, após depor, foi encaminhada a um abrigo de adolescentes, onde deverá ficar até atingir a maioridade — depois que fizer 18 anos, ela seguirá para outro acolhimento, segundo a fotógrafa.

“Ela disse que ficaria com saudade de mim, dos meus amigos, sorriu e disse ‘só quero um abraço’. Aí eu a abracei e vim embora”, relatou Jenyfer. “Ela passava, assim, por coisas de outro mundo mesmo”.

A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social informou ao g1, em nota, que a Polícia Civil investiga o crime. Segundo a pasta, a vítima foi acolhida na Casa da Criança e do Adolescente e é acompanhada pelo Conselho Tutelar.

Ainda conforme a secretaria, a Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dceca) ouviu testemunhas e está apurando os fatos.

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