Os reajustes nas tarifas na conta de energia elétrica devem chegar aos preços dos produtos vendidos nos shoppings do Ceará. Os lojistas afirmam não ter mais como reter o aumento sem repassar o valor aos itens vendidos e projetam uma alta de até 30% no preço final cobrado ao consumidor.
Foto: JÚLIO CAESAR |
Alerta inicial foi emitido pela Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) e está previsto para ser uma realidade no Estado também. “Com a crise hídrica e a alta nas taxas da energia, com certeza, irá impactar no varejo. Estamos ainda caminhando lentamente para recuperar a economia, e isso pode contribuir para uma retomada um pouco mais lenta”, avalia Luis Augusto Idelfonso, diretor institucional da Alshop.
“Infelizmente não dá mais, nós não conseguimos mais segurar. O último aumento na energia foi demais para nós, teremos de repassar isso para o consumidor”, complementa a empresária Luiziane Cavalcante.
Ela representa as óticas Itamaraty e possui lojas em três shoppings de Fortaleza. A lojista destaca ainda que os comerciantes estão “frustrados” em ter de repassar e temem um impacto negativo no fluxo de vendas.
Luiziane afirma ainda que o setor foi pego desprevenido e que os impactos são mais intensos devido ao faturamento fragilizado em virtude da pandemia de Covid-19.
“A gente estava tendo um movimento até melhor do que o esperado, mas ele começou a cair e, com esse aumento, não sabemos como vai ficar. Estamos muito confiantes para a vendas de fim de ano, mas isso gera uma instabilidade. Nós vamos ter fé, mas não sabemos como vai ser”, complementa.
Ao destacar que esta realidade é vivenciada em todos os estados, o porta-voz da Alshop pontua ainda que o aumento irá variar a depender da realidade de cada shopping e lojista, mas que “com toda certeza afetará a todos”.
O principal ponto de aumento, na visão de Luis, será um reajuste nas taxas condominiais cobradas aos lojistas pelos donos dos shoppings.
“O componente energia elétrica é muito representativo no custo de um shopping center, normalmente representa a despesa de até 45% do custo condominial e como os alugueis são definidos previamente por contrato e não podem ser reajustados de qualquer maneira, a taxa de condômino irá subir, sem dúvidas”, reforça.
Outro fator de preocupação para o segmento é um eventual reajuste vindo dos produtores e da indústria também em virtude dos reajustes na conta de energia elétrica.
“A gente é comerciante e seguramos esse aumento por um bom tempo, mas eu fico muito preocupada de pensar como estão os produtores, as indústrias. Eles precisam de muito mais energia do que nós e eu fico assim com medo de pensar em aumento vindo deles”, afirma Luiziane.
Um percentual máximo é impossível de ser estimado, conforme o empresário. Luis defende ainda que tanto os shoppings quanto os lojistas de modo geral estavam em um movimento de reformulação da matriz energética usada nas unidades comerciais. A busca por uma energia mais limpa e mais barata foi acelerado pelo cenário atual.
“A gente já tinha trocado totalmente as lâmpadas daqui pelas de LED, estávamos apostando tudo em automação, tanto os lojistas quanto os shoppings. E a economia com as ações estava sendo enorme, mas o novo aumento foi ainda maior do que a gente estava conseguindo economizar”, afirma Luiziane.
Entre os destaques no setor está o investimento em tecnologia sensorial para equipamentos, como escadas rolantes, elevadores e ar-condicionado com um maior desempenho, funcionando apenas quando solicitado. O uso de aparelhos eletrônicos mais modernos e que demandem um menor consumo de energia também tem sido outra ação implementada pelo shoppings.
A instalação e a busca de energia renováveis, em especial a solar e a eólica, que se apresentava como um movimento crescente na construção de novas unidades de shoppings, passou a ser uma solicitação também de prédios mais antigos.
“Todas já reservam um espaço para isso, os shoppings também estão apostado em arquiteturas que aproveitem ao máximo a iluminação e ventilação natural. Lojistas e proprietários estão tentando atuar juntos de todas as formas para reduzir as despesas com energia”, avalia o diretor da Alshop.
Relacionado ao movimento, Luis destaca ainda a facilitação no processo de instalação de matrizes energéticas sustentáveis e a liberação de crédito especifico para ações que têm impulsionado a migração dos shoppings para o uso de energias renováveis.
O POVO procurou as administradoras dos centros comerciais para detalhar se é realizada alguma negociação com os lojistas e medidas para arrefecer as altas de energia. O Shopping Parangaba, por exemplo, disse que não irá se posicionar por ser uma empresa de capital aberto e preferir não relevar dados e informações internas neste momento.
Iguatemi, RioMar e Rede Ancar Ivanhoe (North Shopping Fortaleza, North Shopping Jóquei, North Shopping Maracanaú e Via Sul Shopping) também foram procurados, mas não retornaram até o fechamento desta matéria.