O porta-voz do Talibã Zabihullah Mujahid anunciou, em um pronunciamento oficial nesta terça-feira (17), que mulheres terão seus direitos garantidos “dentro dos limites do Islã” no Afeganistão. As informações são da BBC News.
“As mulheres terão seus direitos concedidos, seja no trabalho ou em outras atividades”, mas que isso ocorrerá “dentro dos limites do Islã”, ou seja, conforme a lei islâmica Sharia.
Acompanhado de um tradutor para o inglês, o membro do grupo voltou a mencionar anistia para os funcionários do governo. Mujahid disse que afegãos que trabalharam como intérpretes das forças dos Estados Unidos terão a segurança garantida.
O integrante do Talibã ainda esclareceu que essas pessoas, assim com as que atuaram em outros cargos para equipes estrangeiras, devem ficar no Afeganistão e utilizar suas habilidades em prol da nação.
Para ativistas, declarações do tipo não passam de uma operação de propaganda de um poder que busca o reconhecimento internacional.
“Os talibãs já começaram a ir de casa em casa para buscar mulheres ativistas”, relatou ao jornal El País a jornalista e defensora dos direitos humanos Humira Saqib.
Desde que entraram em Cabul no domingo (15), após uma ofensiva relâmpago que permitiu o controle de quase todo o país em apenas 10 dias e provocou a fuga do presidente Ashraf Ghani, os talibãs multiplicam gestos que pretendem ser tranquilizadores.
No entanto, os habitantes da capital têm medo, sobretudo as mulheres, que em sua maioria não se arriscam a sair às ruas. Entre 1996 e 2001, quando governaram o país, o movimento fundamentalista islâmico nacionalista adotou uma visão extremamente rigorosa da lei islâmica. As mulheres eram impedidas de trabalhar e estudar.
Caso as afegãs fossem à rua, deveriam sempre estar acompanhadas de um homem da família, e as punições por descumprirem as regras poderiam chegar ao apedrejamento público e execuções. Além disso, todas eram obrigadas a usar burca — espécie de véu que todo o corpo até os pés, incluindo todo o rosto.
Há relatos de estudantes que não conseguiram retornar às aulas após a retomada de poder por parte do Talibã e de mulheres que foram rejeitadas nos postos de trabalho.
“Dizem que vamos trabalhar e estudar, que vamos levar uma vida normal, mas em Herat não deixam que as mulheres e meninas retornem às universidades”, disse Saqib.
Conforme O Globo, nas ruas, desde a retomada do controle do país já se veem mulheres vestidas com roupas mais conservadoras, apesar de o Talibã não ter imposto formalmente a obrigatoriedade da burca ou de que mulheres só saiam de casa acompanhadas. Canais de televisão já substituíram as populares séries indianas e turcas por outras de teor religioso.
Por enquanto, o país continua com acesso à internet — quando os talibãs governavam nos anos 1990, a televisão e o cinema eram proibidos. Saqib, contudo, teme que seja apenas uma questão de dias.
LEI ISLÂMICA SHARIA
A Sharia é o sistema jurídico do Islã. O conjunto de normas deriva do Corão – livro sagrado do islamismo –, falas e condutas do profeta Maomé e jurisprudência das fatwas – pronunciamentos legais de estudiosos do Islã. Conforme o G1, em tradução livre “Sharia” significa “o caminho claro para a água”.
O código serve como guia para como deve ser a vida dos muçulmanos. O sistema inclui orações diárias, jejum e doações para os pobres. A lei tem disposições sobre todos os aspectos da vida dos religiosos, incluindo direito de família, negócios e finanças.
Por exemplo, a Sharia determina que homens e mulheres precisam se vestir “com modéstia”. No entanto, o que isso significa pode variar, mas é comum ser associado ao fato de que mulheres precisam cobrir no mínimo os cabelos. Também é comum que os espaços sejam separados por gênero.
As normas também incluem punições severas, como para o roubo em que o autor pode ter a mão amputada se condenado. O adultério pode levar a pena de morte por apedrejamento. Esse tipo de punição é condenada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que a considera um tipo de “tortura”.
A forma como é aplicada e rigidez da Sharia varia ao redor do mundo. Nem todos os países muçulmanos adotam esse tipo de punição.
Ela pode tanto se tornar a base do sistema de Justiça em locais onde o Estado não é laico, e o Corão se tornar praticamente a Constituição, quanto servir apenas de orientação para ações privadas de muçulmanos em países laicos.
Nações não-laicas, como a Arábia Saudita, aplicam a forma rígida da lei, em homicídio e tráfico de drogas, por exemplo, podem resultar em execuções e adultério em apedrejamento.
Já a Malásia, onde há muitas pessoas que não são muçulmanas, e as dinâmicas sociais e econômicas diferem, existe interpretação diferente da lei.
Fonte: Diário do Nordeste