Enquanto o Brasil ocupa a quinta posição no ranking mundial de feminicíd!0s, cresce no Congresso Nacional a atuação de parlamentares — inclusive mulheres — que adotam o antifeminismo como bandeira política. Levantamento da iniciativa Elas no Congresso, que monitora a atividade legislativa relacionada a mulheres, meninas e pessoas LGBT+, aponta avanço significativo de projetos considerados prejudiciais às agendas de gênero, impulsionados sobretudo por bancadas conservadoras e evangélicas.
De acordo com a análise, das 812 proposições avaliadas, 22,3% foram classificadas como desfavoráveis aos direitos de gênero. Entre elas, 58 contam com mulheres entre as autoras ou coautoras. Na Câmara dos Deputados, destacam-se Júlia Zanatta (PL-SC), com dez projetos, Clarissa Tércio (PP-PE), com sete, e Chris Tonietto (PL-RJ), com seis. No Senado, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) aparece como autora ou coautora de seis proposições desse tipo.
Para a cientista política Camilla Tavares, doutora na área e pesquisadora da comunicação parlamentar nas redes sociais, o antifeminismo tem sido utilizado menos como reflexo direto do conservadorismo e mais como estratégia de posicionamento político. Segundo ela, o discurso constrói o feminismo como um inimigo simbólico, associado a ameaças a valores morais, éticos e religiosos, o que mobiliza determinados segmentos do eleitorado.
O debate ocorre em um contexto de altos índices de violência contra mulheres no país, levantando questionamentos sobre os impactos dessas agendas legislativas nas políticas públicas de proteção, prevenção e promoção da equidade de gênero. O avanço dessas propostas evidencia a disputa política em torno do tema e amplia a discussão sobre o papel do feminismo e de seus opositores no cenário institucional brasileiro.




